A cantora Pitty anunciou, em seu blog oficial, que irá se
afastar oficialmente das atividades de sua banda de rock para se dedicar
exclusivamente ao grupo Agridoce. Desde 2011, a baiana trabalha no projeto, ao
lado do guitarrista Martin Mendezz.
A cantora explicou sobre o recesso de seu grupo e justificou
que decidiu se dedicar inteiramente ao projeto como uma forma de expressar
melhor sua arte.
Confira o anúncio de Pitty, na íntegra:
Tudo bem quando dizem que o tempo é relativo, eles estão
certos. Especialmente quando se referem ao tempo das artes: esse é
relativíssimo, e aprendi isso na prática.
Estava aqui pensando sobre o tempo ao meu redor. Tudo tem
acontecido aos montes e freneticamente, e confesso que me agrada esse
turbilhão. Tenho feito mil coisas ao mesmo tempo e no fim do dia sempre restam
algumas por fazer. O Agridoce que começou tão paralelo, tão distração, se
tornou a totalidade desses meus dias por conta das circunstâncias. O disco
cresceu e ganhou vida própria, e foram aparecendo muitas coisas boas pelo
caminho. Shows. Especiais pra TV. Oportunidades artísticas instigantes.
O recesso em que minha banda de rock entrou no fim do ano
passado abriu espaço para que eu pudesse me dedicar mais a esse projeto. Um
recesso que foi necessário por diversas questões, algumas alheias a minha
vontade. Eu tinha duas opções: continuar do jeito que estava, com tudo
internamente bagunçado, fim de semana após fim de semana movida por
expectativas externas e correr o sério risco de transformar minha obra num
arremedo, num mero “bater de cartão”. Ou arrumar a casa, se renovar, se afastar
e olhar de longe para não se perder de si mesmo. Obviamente escolhi a segunda
alternativa porque me lembro sempre: desde que resolvi montar banda lá na
adolescência, meu único compromisso é com a arte e com a expressão sincera da
mesma. Não sei dizer isso em palavras que não soem como uma frase feita, mas é
a real.
E é por causa desse compromisso ao qual não sei fugir mesmo
que quisesse, que as coisas estão assim. Minha banda de rock está em recesso
até a hora em que me aconteça aquela gana de escrever, criar, gravar. Aquela
velha fagulha que dá início a tudo. Aquela fagulha que não se provoca nem se
comanda; ela é. Isso pode ser amanhã ou daqui a tempos. De novo, o tempo das artes,
aquele relativíssimo. E quando ele vem é sempre poderoso e forte, porque é
honesto.
Existem outros tipo de funcionamento; tem muita gente que
vive bem assim, entregando encomendas, satisfazendo apenas uma demanda de
mercado. Eu mesma poderia pegar três ou quatro fórmulas, bolar um hit
redondinho com as coisas que eu sei que funcionam e voilá, tem-se um disco. Mas
acho triste. Meu âmago grita que isso seria uma traição sem tamanho; comigo
mesma, com os outros, com o que a coisa é para ser. E eu me odiaria por isso.
Então é saber respeitar o tempo das coisas e estar de
instintos a postos para o chegar da fagulha. E enquanto isso, aproveitar as
coisas ótimas que têm acontecido e que têm me alimentado profundamente. Pegar
essa onda que cresceu e dropá-la por inteiro sem medo de levar um caldo. Quem
tem medo fica deitado agarrado na sua prancha. Ainda que tenha medo, eu sempre
tento ficar de pé.
Em tempo: essa tem sido uma época muito produtiva e
criativa. O Agridoce lançou agora um EP digital no Itunes com lados B das
gravações e uma música inédita. Acabamos de lançar também um DVD chamado
“Multishow Registro: 20 Passos”, que é um documentário/filme sobre os dias em
que ficamos isolados do mundo numa casa gravando o disco. E no dia 27/05 o
Multishow vai exibir um especial na TV com trechos desse DVD e um show ao vivo
na íntegra.